Von der Leyen aposta numa relação “pragmática” com a China

Em Pequim, a presidente da Comissão Europeia, von der Leyen, defendeu um relacionamento "pragmático" com a China e, ao mesmo tempo, pediu reequilíbrio econômico e pressão sobre Moscou para acabar com a guerra na Ucrânia.
Em uma coletiva de imprensa durante a cúpula UE-China, von der Leyen afirmou que o problema do "excesso de capacidade" chinês se tornou ainda mais "urgente" devido às tarifas americanas anunciadas por Donald Trump. Essas tarifas estão causando preocupação entre os exportadores europeus, que temem que produtos chineses baratos sejam desviados e despejados no mercado da UE.
"O que retiro da cúpula é que, apesar das nossas diferenças – e sim, temos diferenças – podemos alcançar muito juntos. Podemos encontrar soluções pragmáticas", disse ela. Bruxelas continua "pronta para aprofundar a cooperação bilateral e construir uma relação mais equilibrada e estável" com a segunda maior economia do mundo.
O elevado superávit comercial da China com a UE continua sendo um ponto central de conflito. Segundo a Comissão, o déficit comercial da UE com a China totalizou € 305 bilhões em 2024 — um aumento em relação aos € 297 bilhões do ano anterior.
Von der Leyen também enfatizou que “espera” que Pequim pressione Moscou para iniciar negociações para encerrar a guerra, que já dura três anos e meio.
A guerra tem "implicações diretas e perigosas para a segurança da Europa", afirmou. Juntamente com o presidente do Conselho da UE, António Costa, ela expressou ao presidente chinês, Xi Jinping, a expectativa europeia de que Pequim "use sua influência para persuadir a Rússia a concordar com um cessar-fogo, com negociações e a pôr fim ao derramamento de sangue".
"O posicionamento da China em relação à guerra de Putin será um fator decisivo para nossas relações futuras", continuou von der Leyen. Ao mesmo tempo, ela reiterou o objetivo da Europa de "implementar cuidadosamente" sua própria estratégia de " redução de riscos " em relação à China.
Em uma declaração da agência estatal chinesa Xinhua sobre as conversas de Xi com von der Leyen e Costa, foi dito que a "abertura da China criará novas oportunidades e potencial para cooperação com a UE".
Ao mesmo tempo, porém, Xi alertou que "a dependência mútua não é um risco" e que "cortar as cadeias de suprimentos só leva ao autoisolamento". O relatório não mencionou a Rússia ou a guerra na Ucrânia.
As relações entre a UE e a China — já tensas por disputas comerciais, direitos humanos e pela crescente proximidade de Pequim com Moscou — deterioraram-se significativamente nos últimos meses. Isso foi desencadeado, entre outros fatores, pelos controles chineses sobre as exportações de matérias-primas essenciais, que causaram inquietação na indústria europeia.
Von der Leyen afirmou que, além de uma declaração geral sobre esforços conjuntos para combater as mudanças climáticas, a cúpula também produziu um acordo para estabelecer um "mecanismo especial de entrega de exportações". Isso permitiria que empresas europeias contatassem a Comissão Europeia "imediatamente" em caso de atrasos na concessão de licenças de exportação para matérias-primas críticas.
O mecanismo é “um passo muito pragmático em direção a uma das preocupações centrais da economia europeia”, disse von der Leyen.
O presidente do Conselho da UE, Costa, apoiou as declarações de von der Leyen: "O diálogo é a única maneira de criar entendimento mútuo, identificar problemas e encontrar soluções", disse ele.
"O mundo precisa de uma cooperação estreita entre a UE e a China", disse Costa. "É por isso que estamos aqui."
(mm,jl)
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